Trabalhadores da Renault entram no sexto dia de greve geral no Paraná

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Após trabalhadores rejeitarem PDV proposto pela Renault, montadora demitiu 747 metalúrgicos e categoria iniciou greve geral por tempo indeterminado; concessionárias relatam falta de carros nas lojas

Por Marcello Oliveira

A fábrica da Renault em São José dos Pinhais, na Região Metropolitana de Curitiba, entrou no sexto dia com as linhas de produção completamente paradas. A montadora apresentou um Programa de Demissão Voluntária para 800 funcionários na semana retrasada, mas o PDV foi recusado pelo Sindicato dos Metalurgicos da Grande Curitiba e deu 72 horas para que Renault apresentasse nova proposta. Segundo o sindicato, a montadora não aguardou esse prazo e na última terça-feira (21) anunciou a demissão de 747 trabalhadores. Como resposta, os trabalhadores decidiram entrar em greve geral por tempo indeterminado. O Carro Esporte Clube apurou junto ao sindicato dos metalúrgicos que até o fim da tarde desta segunda-feira (27), a Renault não havia procurado os trabalhadores para negociar. “Queremos deixar nosso repúdio pela forma que esta empresa está agindo mesmo recebendo incentivos fiscais do governo do estado para gerar e também manter empregos. Infelizmente não é o que a direção atual desta planta está pensando”, ressalta o presidente do SMC, Sérgio Butka.

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Os incentivos fiscais referidos pelo presidente do sindicato são resultados do projeto de lei apresentado em 2006 pelo então deputado estadual Ratinho Júnior, hoje governador do Estado do Paraná. A lei prevê uma série de condições que as empresas que recebem qualquer tipo de incentivo fiscal no Paraná devem seguir. Entre as medidas está a manutenção de emprego e vedação de dispensa, salvo por justa causa. A lei também determina a aplicação de até 5% do valor dos incentivos fiscais recebidos em programas voltados à qualificação do trabalhador o que, segundo o sindicato, foi aplicado em crises anteriores na montadora que não resultaram em nenhum corte.

Segundo o sindicato, a Renault já havia informado no momento em que apresentou o PDV, que iria parar a linha de produção para fazer alguns ajustes, ou seja, mesmo que não houvesse a greve, as linhas estariam paradas, porém agora, com a paralisação dos metalúrgicos, não há previsão de retorno das atividades. Segundo o sindicato, aproximadamente 1.250 carros e 1.200 motores deixam de ser produzidos por dia paralisado. 

Concessionárias já sentem a interrupção da produção

A planta da Renault em São José dos Pinhais emprega 7.300 trabalhadores e é responsável pela produção dos modelos Sandero, Logan, Kwid, Duster, Oroch, Master e Captur. Conversamos com oito concessionárias em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Brasília e Curitiba e por telefone, vendedores mostraram preocupação com a falta de alguns modelos. Algumas versões de Kwid, Sandero e Duster já estão em falta nos estioques “A pandemia já atrapalhou o pedido e entrega dos carros, temos clientes, mas não temos alguns modelos, como o Sandero RS”, informou uma vendedora de uma revenda da marca no Rio. “Essa paralisação nos preocupa, pois vai atrasar a chegada dos pedidos já feitos e não poderemos dar previsão ao cliente para a chegada dos carros que não temos em estoque”, explicou outro vendedor de uma concessionária de BH. Em uma concessionária de São Paulo, o vendedor nos disse que a versão RS do Sandero já não se encontra disponível para pedidos. “Talvez esse carro nem chegue mais nas concessionárias”, alertou. Consultores de vendas de outras lojas em Brasília e em Curitiba negaram que o modelo tenha saído de linha, mas afirmaram não ter data definida para receber a versão esportiva do hatch. Um dos funcionários que conversaram com a reportagem nos mostrou uma lista que supostamente seria dos modelos que entrariam em produção nas próximas quatro semanas – desconsiderando a greve – e não havia nenhum Sandero RS a ser produzido nesse período. Em nenhuma das lojas pesquisadas haviam unidades a pronta entrega e também não deram previsão de quando poderiam receber o modelo. Uma engenheira da montadora, que trabalha em São José dos Pinhais, revelou que “o volume de produção reduziu por causa da pandemia”. Questionada pela reportagem se o Sandero RS voltaria a ser produzido, a funcionária disse que “não tem como afirmar isso, pois o cenário mundial, não apenas da Renault, é incerto”. Nenhum dos funcionários citados quiseram se identificar.  Nas redes sociais, clientes e interessados no RS relataram dificuldades em encontrar o modelo nas concessionárias. “Nem para test drive tem, por isso acabei optando por um Polo Highline”, dizia um dos comentários num post do grupo. “Agora nem Kwid em todas as versões eu tenho como oferecer aos clientes, assim como o Duster”, disse outro vendedor em Belo Horizonte.

Sandero RS: concessionárias não têm previsão de entrega do esportivo da marca

 

Procurada, a Renault disse que o Sandero RS continua em linha normalmente. O modelo acabou de chegar à linha 2021, conforme o Carro Esporte Clube mostrou no Instagram e também no YouTube. A unidade mostrada, na cor prata, estava no showroom de uma concessionária de Belo Horizonte, disponível para pronta entrega, mas foi vendida em apenas três dias. A Renault não comentou sobre o PDV e nem sobre o corte de funcionários em sua fábrica.

Em maio, um jornal japonês informou que a Nissan, que compõe a aliança com a Renault, cortaria 20 mil empregos em todo o mundo, principalmente na Europa e em países em desenvolvimento, como o Brasil, embora não tenho colocado o nosso país de forma explícita na reportagem.

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