Grupo reunirá 14 marcas de veículos e 400 mil funcionários, apostando na sinergia para reduzir custos. Fechamento de fábrica está descartado, mas analistas apontam que há possibilidade.
A Fiat Chrysler Automobiles (FCA) a Peugeot S.A. (PSA) chegaram a um acordo vinculante sobre uma fusão avaliada em cerca de US$ 50 bilhões e que deverá remodelar a indústria automotiva global. Pela união, o grupo será o quarto maior fabricante mundial de veículos em volume e o terceiro maior em receita.
O novo grupo, com mais de 400 mil funcionários, terá um volume de negócios consolidado de quase 170 bilhões de euros (190 bilhões de dólares) e vendas anuais de 8,7 milhões de veículos, considerando o volume de ambas em 2018.
O objetivo da operação será unir forças com o que cada grupo tem de melhor: a FCA terá mais foça na Europa, enquanto a PSA chegará ao mercado americano e com mais força no latino. O trio que lidera o mercado mundial em número de vendas é integrado atualmente pela alemã Volkswagen, a aliança franco-japonesa Renault-Nissan e a japonesa Toyota, nesta ordem.
O novo conglomerado reúne as marcas marcas Abarth, Fiat, Jeep, Dodge, Lancia, Ram, Chrysler, Alfa Romeo, Maserati, Peugeot, Citroën, DS, Opel e Vauxhall, além de Comau e Teksid. O agora quarto maior grupo automotivo cobre praticamente todos os segmentos-chave de veículos, desde automóveis de luxo, premium e de passageiros, até SUVs e picapes & veículos utilitários leves
A PSA, da França, e a Fiat-Chrysler (FCA), ítalo-americana, que ainda não decidiram o nome de sua nova empresa, agora vão começar a cumprir a promessa de reduzir custos do grupo combinado em 3,7 bilhões de euros por ano sem fechar fábricas.
Para isso, vão apostar em sinergia: a ideia é otimizar investimentos nas plataformas de veículos, nas famílias de motores e em novas tecnologias, beneficiando-se de sua maior escala. PSA e FCA vão se concentrar em duas plataformas, com aproximadamente 3 milhões de veículos por ano em cada uma, na plataforma pequena e na plataforma compacta/média.
Além da sinergia em tecnologia, o novo grupo também terá esforços conjuntos em áreas como marketing, TI, G&A (Gerais & Administrativas) e logística. A promessa é que não haverá fechamento de fábricas nesta transação. Contudo, analistas do mercado duvidam do não-fechamento de plantas.
“O grupo resultante da fusão terá que fazer grandes economias e provavelmente também fechar fábricas, mesmo que a escolha das palavras dos presidentes-executivos seja diferente”, disse Frank Schwope, analista de automóveis do NordLB, após o anúncio do acordo nesta quarta-feira (18).
E no Brasil?
No Brasil, o grupo combinado deve ultrapassar General Motors e Volkswagen em vendas de veículos. No acumulado de janeiro a setembro, FCA e PSA registram 395,5 mil licenciamentos ante 345,75 mil da GM e 304,6 mil do grupo Volkswagen, segundo dados da Fenabrave.
No país, maior mercado da Fiat fora da Itália, a FCA possui duas fábricas de veículos – Betim (MG) e Goiana (PE) – com capacidade total para cerca de 1 milhão de carros por ano, além de duas fábricas de motores capazes de produzir 1,4 milhão de propulsores a cada ano. Já a PSA tem um polo automotivo em Porto Real (RJ), incluindo fábricas de veículos e motores.
O anúncio ocorreu cerca de cinco meses depois que a FCA desistiu de negociações para uma fusão com a Renault. “Neste momento nada está decidido. Estamos avaliando quais são as oportunidades”, disse a jornalistas o presidente-executivo da PSA, Carlos Tavares, que vai comandar a companhia combinada como presidente-executivo.
Próximos passos
PSA e FCA afirmaram que esperam que a fusão seja concluída nos próximos 12 a 15 meses. A FCA deverá se reunir com representantes de trabalhadores para discutir a operação na sexta-feira.
A nova empresa terá um Conselho de Administração composto por 11 membros, cuja maioria será independente. Cinco membros do Conselho serão nomeados pela FCA e seu acionista de referência (incluindo John Elkann como Presidente) e cinco serão nomeados pelo Groupe PSA e seus acionistas de referência (incluindo o Diretor Sênior Não Executivo e o Vice-Presidente). O Conselho incluirá dois membros representando os funcionários da FCA e do Groupe PSA. Carlos Tavares será o Chief Executive Officer, com um mandato inicial de cinco anos, bem como será também membro do Conselho de Administração.
A empresa controladora do novo grupo, sediada na Holanda, será listada na Euronext (Paris), na Bolsa Italiana (Milão) e na Bolsa de Valores de Nova York, e se beneficiará de sua sólida presença na França, Itália e Estados Unidos.
Dividendos
Antes da fusão, a FCA distribuirá a seus acionistas um dividendo excepcional de 5,5 bilhões de euros, enquanto a PSA distribuirá aos seus acionistas os 46% que possui no capital da empresa de equipamentos Faurecia, afirma o comunicado. Além do mais, a FCA continuará a trabalhar na separação da sua holding
na Comau, que será separada imediatamente após o fechamento, em benefício dos acionistas.Cada companhia tem a intenção de distribuir dividendos ordinários de 1,1 bilhão de euros em 2020, relativos ao ano fiscal de 2019, sujeitos à aprovação do Conselho de Administração e dos acionistas de cada companhia. No fechamento, os acionistas do Groupe PSA receberão 1,742 ação da nova companhia combinada para cada ação do Groupe PSA, enquanto os acionistas da FCA terão 1 ação da nova companhia combinada para cada ação da FCA.
“Nossa fusão representa uma oportunidade formidável para adquirir uma posição mais forte na indústria automobilística, quando estamos em uma transição para uma mobilidade limpa, segura e duradoura. Queremos oferecer a nossos clientes produtos, tecnologias e serviços do melhor nível”, declarou Tavares em uma conferência telefônica com a imprensa.
“É a união de duas empresas de marcas emblemáticas e trabalhadores muito comprometidos. As duas empresas passaram por momentos difíceis e se tornaram grandes grupos ágeis e inteligentes”, comentou Mike Manley, presidente executivo da FCA.
As economias geradas pelas sinergias permitirão paralelamente “investir consideravelmente nas tecnologias e serviços que vão modelar a mobilidade do futuro, respondendo ao desafio das regulamentações sobre as emissões de CO2”, destacaram os dois grupos.
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