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Morto há 26 anos, Senna ainda conquista fãs mundo afora

Australiano que completa 26 anos neste 1° de maio foi batizado em homenagem a Ayrton e jovem russa aprendeu português por causa do ídolo

Por Marcello Oliveira

Não é muito difícil arrancar sorrisos do rosto de qualquer pessoa que viveu na era Senna ao falar do tricampeão mundial de Fórmula 1, mas como explicar quem foi Senna para os que não chegaram a conhecer o piloto?

Eu acho que nem precisamos falar muito. A história por si só já conta – e continuará contando – quem foi Ayrton Senna e isso nos surpreende. Lembrei de alguns casos durante uma LIVE que fizemos com a Mariana Becker, repórter setorista da Fórmula 1 na TV Globo. Como reagir, por exemplo, ao conhecer um jovem australiano, chamado Ayrton e fã de Senna? A história tem muito mais coincidências.

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Uma vez eu estava saindo de um shopping na cidade de Gold Coast, na Austrália e quando fui pegar o carro no estacionamento notei um Audi R8 preto com a placa AYRTON S. Na Austrália, você customiza a placa do veículo como quiser, mesclando letras e números ou apenas letras. Você pode, por exemplo, colocar o seu nome. Como eu já havia visto um Camaro branco de um brasileiro (e atleticano) por lá com a placa GALO (em homenagem ao Atlético-MG, time de coração do dono do Camaro), logo pensei que o R8 pertencia a um brasileiro fã de Senna. Alguns dias depois, no mesmo estacionamento, me deparei com o Audi entrando e aguardei para puxar papo com o dono. Tinha certeza que era um brasileiro, mas para a minha surpresa, o rapaz nunca tinha nem passado perto do Brasil. Era um australiano, mais do que fã de Senna, era Ayrton Mansi, modelo e empresário do ramo de construção civil na Austrália. Filho de pai australiano de origem inglesa e de mãe neozelandesa de origem canadense, o rapaz foi batizado de Ayrton por ter nascido justamente no dia em que Senna morreu. Naquele estacionamento, ficamos quase uma hora conversando sobre Senna, Fórmula 1 e carros. Duvidei da história e ele me mostrou o documento de identidade que comprovou tudo. “Eu me chamo Ayrton mesmo, Ayrton Mansi, mas pode me chamar de Ayrton Senna”, disse ele. Mansi nunca esteve no Brasil, não fala português mas disse ter vontade de conhecer o país de Senna. Contei a ele que Senna foi o responsável pela chegada da Audi – fabricante de seu R8 – ao Brasil no início dos anos 1990 e ele ficou surpreso ao saber da estreita ligação do ídolo com a marca alemã. Numa cidade de 500 mil habitantes, como Gold Coast, não é raro encontrar as pessoas mais de uma vez. Numa noite em que fui numa pizzaria, buscar uma pizza, ouço alguém chamando “ei, Marcello”, era Ayrton, me apresentando à sua namorada como “conterrâneo do Senna”. Mais uma rodada de conversas sobre o ídolo dele. A placa que na época identificava o Audi R8, hoje está no Porsche 911 que o Ayrton australiano comprou, mas também já equipou o Mustang GT que ele tinha antes do R8. Na Austrália, a placa dos carros pertencem aos donos e não ao veículo. Então, você pode transferir a mesma placa de um carro para outro. A Austrália tem um sentimento de gratidão ao Senna por tantas alegrias.

Ayrton nasceu na Austrália quando Senna morreu. Carro leva a homenagem

Quem não se lembra do Grande Prêmio da Austrália de F1 de 1991? Foi a corrida mais curta da história, durou apenas 26 minutos por causa da chuva torrencial. Ayrton venceu com brilhantismo que ele tinha em pista molhada. A última vitória de Senna foi na Austrália, em 1993, quando a corrida ainda era disputada em Adelaide. No circuito de rua, foi colocada uma placa em homenagem a Senna. O local até hoje é bem visitado na cidade e as pessoas ainda levam flores.

Durante três anos eu cobri a abertura das temporadas de Fórmula 1, que acontece em Melbourne, cidade que substituiu Adelaide no circuito. Num desses anos, eu já estava na cidade e discutia a pauta com o editor de Esportes da Folha e resolvemos incluir na matéria o amor do público estrangeiro ao Senna. Vi muitas crianças com o boné do Ayrton, adultos com camisas e a lojinha do Senna montada no Albert Park era sem dúvida a mais movimentada. Percebi que muitas pessoas que compravam ali nem eram nascidas quando Senna morreu. Os bonés e os adesivos são os itens mais vendidos. Aproveitei e comprei o meu ali, um boné azul, do extinto banco Nacional, patrocinador de Senna e a assinatura do piloto nas laterais. Trabalhei com ele na sala de imprensa e fez o maior sucesso.

Loja Ayrton Senna montada no circuito Albert Park, em Melbourne

O mesmo boné eu levei para a Rússia, mas a pauta era outra: Copa do Mundo de 2018. Numa tarde do verão russo eu fui tomar uma cerveja na Fan Fest com o boné de enfeite. Estava em Sochi, casa da seleção brasileira no mundial da Rússia. Alguém grita “Ayrton, ei Senna…” com um sotaque meio engraçado. Era uma jovem russa, de 25 anos, que também usava um boné de Senna. Havia aprendido português por causa do ídolo. Já havia assistido pela internet todas as corridas em que Senna foi campeão, sabia tudo dele, da família dele e da última namorada dele, Adriane Galisteu. Já tinha cercado Bruno Senna, sobrinho de Ayrton, no autódromo de Sochi e conseguiu a atenção do piloto. Sempre falando em português, com sotaque, claro, mas super correto. A russa era voluntária da FIFA em Sochi e pela fluência em português, ela auxiliava a imprensa e o público no hotel onde a seleção brasileira estava hospedada na cidade. Nem ela sabia explicar de onde vinha todo esse amor pelo Senna, mas era algo que a tocou a ponto de chorar ao falar do ídolo. Disse que o maior sonho seria viajar ao Brasil e conhecer a família do tricampeão, em especial a irmã Viviane.

Russa aprendeu português e a cultura brasileira por causa do ídolo Senna

Estes foram apenas dois casos de um universo que ama e aplaude um dos maiores esportistas de toda a história. Viva Ayrton Senna!

Marcello Oliveira

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