Fabricantes decidiram suspender seus testes em ruas. Erro humano é mais aceitável que o de máquinas, mesmo essas colaborando para um trânsito mais seguro?
Por Fernando Calmon
Logo no início deste mês de março, no Salão do Automóvel de Genebra, esse colunista procurou a Audi para saber se já existia estimativa de preço para o sistema autônomo de nível 3 do seu modelo de topo A8, exibido seis meses antes no Salão de Frankfurt. A resposta foi que o governo alemão ainda não havia liberado o regulamento de homologação, apesar de existir uma legislação prévia desde junho do ano passado. Assim, a precificação continuava pendente. Nível 3 tem limitações como velocidade máxima de 65 km/h e separação física de fluxo e contrafluxo de trânsito.
Menos de 15 dias depois, um Volvo XC90 autônomo de nível 4 operado pela empresa de serviços de mobilidade Uber se envolveu em um acidente fatal no Estado do Arizona, EUA. Uma mulher a pé, empurrando uma bicicleta, não foi detectada previamente. Colhida pelo carro a 60 km/h, fora da faixa de pedestres numa avenida da cidade de Tempe cujo limite era de 70 km/h, resultou em enorme comoção e abriu grande debate sobre segurança dessa tecnologia.
O nível 4 de autonomia, quando chegar a mercado, libera totalmente o motorista de dirigir ou mesmo supervisionar a condução do veículo. Nos testes, porém, é exigido pelo menos um técnico ao volante. No caso do Uber a câmera de bordo registrou sua distração. Um segundo técnico ajudava na primeira fase, mas com boa evolução ele foi dispensado. O desenvolvedor toma essa decisão, mas ao que parece o sistema do Uber é o menos confiável de todos.
Divisão Waymo, do Google, afirmou que seus algoritmos mais robustos já permitem eliminar qualquer supervisão nos testes e esse acidente não aconteceria. Por outro lado, a fabricante de radar e câmeras Aptiv garante que os equipamentos instalados no XC90 funcionavam perfeitamente. Uber teria desligado a interface original com o carro para utilizar seus próprios controles.
Reação mais dura veio de Keith Crain, dono e editor da respeitada publicação americana Automotive News. Para ele, testes de tecnologias não maduras fora de campos de prova deveriam ser proibidos. Também questionou a demanda e o preço do equipamento, apesar de reconhecer o enorme potencial de avanço para segurança do trânsito.
Além do Uber, fabricantes como a Toyota decidiram suspender seus testes em ruas e estradas dos EUA. O governo do Arizona, o mais liberal dos estados americanos quanto aos autônomos, anunciou nesta segunda-feira a interrupção das autorizações. Há forte movimento no Congresso dos EUA para regulamentar todo o ecossistema dessa tecnologia, desde testes, homologações, comercialização e, em especial, as responsabilidades sobre eventuais acidentes.
Na realidade, enquanto o NTSB (em inglês, Conselho Nacional de Segurança nos Transportes) não concluir análises independentes é prematuro prever qual o atraso decorrente do lamentável acidente. Os mais realistas acreditam em três anos ou mais. Afinal, o otimismo se mostrou superior aos problemas reais.
Os clientes também podem desanimar frente ao debate principal: erro humano é mais aceitável que o de máquinas, mesmo essas colaborando para um trânsito mais seguro? Há de se achar aí o meio-termo, mas a tecnologia deve prevalecer.
RODA VIVA
DESSA vez vai. Segundo três fontes da Coluna, Rota 2030 será anunciado dia 12 de abril pelo presidente Michel Temer, em encontro no Palácio do Planalto em Brasília. Foram convidados todos os presidentes das empresas fabricantes de veículos no País. O programa de longo prazo estabelece novas obrigações (pesquisa, segurança, consumo e outras), além de estímulos fiscais menores que os anteriores.
CONFORME adiantado nesse espaço, a Volkswagen confirmou, ao comemorar 65 anos de fundação da filial no Brasil, que o Tiguan mexicano será oferecido em versões de cinco e sete lugares, a partir de abril. No plano de 20 lançamentos até 2020/21 este é um dos cinco modelos novos que serão importados. Os outros: Jetta (México), Atlas (EUA) de sete lugares e também a futura versão de cinco lugares e a terceira geração do Touareg (por encomenda).
HONDA refinou a quinta geração do SUV médio-compacto CR-V. Agora vem dos EUA e, assim, um pouco menos competitivo em razão da alíquota de 35% de imposto de importação. Versão única e completa sai por R$ 179.900. Construído sobre arquitetura do Civic tem motor mais forte (190 cv/24,5 kgfm), ótimo espaço interno, assoalho plano e porta-malas de 522 litros.
INTERIOR do CR-V foi bem melhorado em termos de materiais e acabamento. Projeção de informações (head-up display) é sobre uma pequena tela de acrílico e não mais no para-brisa. Tração 4×4 ajuda a equilibrar seu comportamento mesmo em estradas asfaltadas. Dois itens especialmente práticos: freio de imobilização elétrico automático e câmera de boa definição no espelho retrovisor direito com comando seletivo ou automático.
RESSALVA: executiva americana Denise Johnson foi a primeira mulher no comando de um fabricante no Brasil (GM, 2010). Theresa Borsari, da PSA, no entanto, tornou-se primeira brasileira nessa função.
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